"O homem: as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno

chateia-se na Terra

lugar de muita miséria e pouca diversão,

faz um foguete, uma cápsula, um módulo

toca para a Lua

desce cauteloso na Lua

pisa na Lua

planta bandeirola na Lua

experimenta a Lua

coloniza a Lua

civiliza a Lua

humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.

O homem chateia-se na Lua.

Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.

Elas obedecem, o homem desce em Marte

pisa em Marte

experimenta

coloniza

civiliza

humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.

Vamos a outra parte?

Claro — diz o engenho

sofisticado e dócil.

Vamos a Vênus.

O homem põe o pé em Vênus,

vê o visto — é isto?

idem

idem

idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter

proclamar justiça junto com injustiça

repetir a fossa

repetir o inquieto

repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.

O espaço todo vira Terra-a-terra.

O homem chega ao Sol ou dá uma volta

só para tever?

Não-vê que ele inventa

roupa insiderável de viver no Sol.

Põe o pé e:

mas que chato é o Sol, falso touro

espanhol domado.

Restam outros sistemas fora

do solar a colonizar.

Ao acabarem todos

só resta ao homem

(estará equipado?)

a dificílima dangerosíssima viagem

de si a si mesmo:

pôr o pé no chão

do seu coração

experimentar

colonizar

civilizar

humanizar

o homem

descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas

a perene, insuspeitada alegria

de con-viver."

Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)

Artista: Eugenio Zampighi

(1859-1944)

Título: Admirando o Bebê

Música e poesia 🎼✍

O primeiro vídeo de hoje enche meu coração de nostalgia... É uma saudade funda das tardes ensolaradas de minha infância, ao lado de minhas primas Ali e Soli! Subíamos na mangueira frondosa, nos sujávamos de terra, brincávamos com os cachorros e periquitos (soltos no jardim da sala, linda criação de tia Sue), catávamos na relva as mangas mais doces do mundo (chamadas de "Carlotinhas") e olhávamos ao mesmo tempo com carinho e desagrado para os micos, que teimavam em estragar mangas perfeitinhas, dando UMA única mordida e jogando-as fora! 

Comíamos pitangas tiradas do pé... uma vez, depois de uma mordida, encontrei só metade de uma minhoca se mexendo lá dentro. A outra metade? Tarde demais! "Eeeeca!" - joguei a frutinha do outro lado do muro, onde uma área da Mata Atlântica presenteava-nos com sua exuberância, com o verde vibrante ao redor da Lagoa de Pituaçu a perder de vista. Que lindo era ver aquela floresta do alto, um pouco acima das copas das árvores, sob a luz dourada do pôr do sol tropical! E quantas manhãs de sábado e domingo passei andando de bicicleta ao lado de meu pai, meus tios e minhas primas naquele parque! Não importava quão quente estivesse o dia, era entrar na floresta e pronto! Um ar condicionado natural... Ainda consigo sentir a brisa daquele ar fresco no rosto enquanto pedalava. Até hoje, aquele é um de meus "lugares felizes", aonde às vezes me transporto em minhas meditações e momentos de recordação. Ainda, eu e minhas primas jogávamos vôlei - que felicidade era passar horas naquelas partidas com elas! - , às vezes até a hora do jantar, e assistíamos a filmes clássicos de madrugada (eu e Ali, principalmente... Soli dormia cedo, escutando músicas em volume quase imperceptível em seu pequenino rádio grudadinho ao ouvido :) . "A Noviça Rebelde", "Sete Noivas para Sete Irmãos" e tantos outros da "Sessão Coruja" - ou "Corujão" - eram verdadeiros hits entre nós! E, visto que já havia passado tanto da hora de dormir, não deixava de ser uma bem-vinda travessura, como o era ir na pontinha dos pés ao corredor atrás dos biscoitos de chocolate que alegravam ainda mais os nossos filmes! 😊😇

 E onde entram essas músicas de que falei? Ah... Elas foram a trilha sonora de grande parte dessas vivências, principalmente quando nos balançávamos na rede da varanda, com a grande janela de madeira aberta. Era a janela do quarto onde tio Nadinho e tia Sue guardavam verdadeiros tesouros da bossa nova e de antigas músicas francesas e italianas (lindas coleções de discos anunciadas nas pausas do último jornal da noite e do Corujão, na época). Aprendi desde bem cedo a cantá-las, a amá-las e a absorver em minha alma sua poesia e suas notas cadenciadas! Tia Sue, tio Nadinho, Ali e Soli, vocês moram em meu coração e fazem parte de muitas das mais belas e doces memórias de minha infância! Amo vocês e levo-os comigo aonde eu vou! ❤️

Aproveito este momento para te dar, Ali, mais uma vez, meus parabéns por seu aniversário! Que você seja sempre muito feliz! ✨

Um abraço afetuoso desta fada em cada um de vocês! 💫

🧚

 Caetano Veloso e João Gilberto - Canal á - Concerto de 2 horas realizado em Buenos Aires, em 1999 - Caetano entra em cena a partir de 35:32 do vídeo 🎼

Nota: Se puderem, conectem seu celular, tablet ou computador a uma TV, coloquem o vídeo em tela cheia e aumentem o som. E bom espetáculo! :) 

Lista de reprodução:

00:00 Eu vim da bahia (Gilberto Gil) 1965

04:13 Menino do rio  (Caetano Veloso) 1979

08:18 De convesra em conversa (Lúcio Alves/Haroldo Barbosa) 1947

11:19 Una mujer (Paul Misraki/Sixto Pondal Ríos/Carlos Olivari) 

14:54 Pra que discutir com madame? (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida) 1956

18:22 Rosa morena (Dorival Caymmi) 1942

21:56 Eclipse (Margarita Lecuona) 

27:19 Farolito (Agustín Lara) 1934

31:57 Isso aqui o que é? (Ary Barroso) 1942

36:56 Coração vagabundo (Caetano Veloso) 1967

40:44 Pra ninguém (Caetano Veloso) 1997 

43:06 Trilhos urbanos (Caetano Veloso) 1979 

46:04 Manhatã (Caetano Veloso) 1997 

49:47 Você é linda (Caetano Veloso) 1983 

53:32 Lamento boricano (Rafael Hernandez) 1930

58:34 Luz do sol (Caetano Veloso) 1986 

01:00:45 Acontece que eu sou baiano (Dorival Caymmi) 1943

01:05:10 Avarandado (Caetano Veloso) 1967 

01:11:02 Bahia com h (Denis Brean) 1947

01:18:06 Besame mucho (Consuelo Velázquez) 1941

01:20:57 Meditação  (Antônio Carlos Jobim/Newton Mendonça) 1959

01:26:23 Doralice (Dorival Caymmi/Antônio Almeida) 1945 

01:30:17 Ave maria no morro (Herivelto Martins) 1942 

01:34:58 O pato (Jaime Silva/Neusa Teixeira) 1960

01:41:05 Desafinado (Antônio Carlos Jobim/Newton Mendonça) 1958

01:47:05 Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes) 1958

01:52:56 Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes) 1960

Vídeo postado por: Archivo Humano

© All rights reserved

&

Interpretação de Odilon Esteves dos versinhos de Drummond que abriram esta edição de hoje :)

Vídeo postado por: Odilon Esteves

© All rights reserved

***

🌲🌳🌱🌷🌸🌹🍃🌳🌲

Despeço-me de todos vocês, compartilhando algumas fotos que tirei nos últimos dias aqui por perto. Encanta-me a primavera... Nos canteiros, nas florestas, ou em um mato mais alto que a prefeitura tenha se esquecido de cortar: flores! Muitas flores!

Faço jus ao meu nome e, com o vento, passo por entre as flores, agitando suas folhas e delicadas pétalas. Em meu voo, cultivo a infinita gratidão por fazer parte - como vocês também fazem parte - dessa natureza, com tantas formas graciosas, cores e tanta vida! Não importa quão longo e frio seja o inverno, a primavera sempre virá! 🧚

Cá estão algumas impressões da natureza, mãe que tanto nos alegra, equilibra e cura. Que sua energia esteja em suas casas e em seu coração! 

Namastê 🙏

💫

Esse grande ponto de luz é um planeta, pois não cintila. Vênus? Amaria saber...

***

Espero que tenham gostado :) Muita paz, descanso, sorrisos, encontros com pessoas queridas (se pessoalmente não for possível, por um telefonema ou chamada de vídeo), meditação e esperanças e energias renovadas!

Com amor,

A Fada do Vento

💫  

🌸

Carlos Drummond de Andrade

🌷

O conteúdo deste blog é dedicado a trazer um momento de repouso e encanto para seu dia. Cada publicação contém uma citação ou passagem literária, uma pintura (em tela, afresco...) e até dois vídeos com músicas e sons relaxantes. O segundo vídeo frequentemente é longo, a fim de que você possa ouvi-lo enquanto estuda, trabalha ou medita, com a página aberta ou em outra aba de seu navegador.

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