✨ Edição Especial ✨
🌠 A solidão e a ilusão de conexão 🌠


Retornando ao lar
Artista desconhecido*
 * Se alguém conhecer o nome do(a) autor(a) desta tela, por favor, envie-o para a.fada.do.vento@gmail.com ou deixe-o aqui nos comentários. Desde já, muito obrigada. 💫
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A seguir, você lerá a transcrição de um ensinamento budista tão simples e, ao mesmo tempo, tão profundo, em uma palestra de Thích Nhất Hạnh, um dos fundadores do Monastério Plum Village, na França (vide "notas" logo abaixo do texto), traduzida do inglês para o português especialmente para a edição de hoje :) 🧚


 "Da última vez, falamos sobre casa. E sabemos que, uma vez em casa, não nos sentimos mais sozinhos. Se você está em casa, [você está] aquecido, confortável, seguro, realizado. Então, a casa é um lugar onde a solidão desaparece. Mas onde fica a casa? E o Buda disse muito claramente que a casa está em nós e que existe uma ilha, que você tem de voltar para a própria ilha e isso é uma prática, não uma teoria.

A solidão é o novo ser do nosso tempo. Nos sentimos muito solitários mesmo estando rodeados de muitas pessoas. Estamos sozinhos juntos. E há um vácuo dentro de nós e uma pessoa não se sente confortável com esse tipo de vácuo. Então tentamos preenchê-lo conectando-nos com outras pessoas. Acreditamos que quando conseguirmos nos conectar com outras pessoas, o sentimento de solidão desaparecerá. E a tecnologia nos fornece muitos dispositivos para nos conectarmos, permanecermos conectados. Sempre ficamos conectados, mas nos sentimos solitários, continuamos a nos sentir solitários. Verificamos e-mails várias vezes ao dia, enviamos e-mails várias vezes ao dia, postamos mensagens... Queremos compartilhar, queremos receber. Ou você está ocupado, você permanece ocupado o dia todo para se conectar, mas isso não ajuda na solidão, na redução da solidão que há em nós. Isto é o que acontece no momento presente na nossa civilização moderna. Nosso relacionamento não é bom. Não temos um bom relacionamento com o(a) nosso(a) parceiro(a), com o nosso irmão, com a nossa irmã, com os nossos pais, com a nossa sociedade. Nos sentimos muito solitários. E temos usado tecnologias para dissipar, para tentar dissipar esse sentimento de solidão, mas não conseguimos.

Na tradição de Plum Village*, cada vez que me sento em uma almofada é para me conectar comigo mesmo, porque, no nosso dia a dia, estamos desconectados de nós mesmos. Caminhamos e não sabemos que estamos caminhando. Estamos lá, mas não sabemos que estamos lá. Estamos vivos, mas não sabemos que estamos vivos. Estamos nos perdendo. Não somos nós mesmos e isso acontece quase o dia todo. Portanto, o ato de sentar é um ato de revolução. Você se senta e interrompe. Você interrompe esse estado de se perder, de não ser você mesmo. E quando você se senta, você se conecta a si mesmo e não precisa de um iphone ou de um computador para fazer isso. Você só precisa sentar-se atentamente e respirar atentamente e em alguns segundos você se conectará consigo mesmo. Você sabe o que está acontecendo. O que está acontecendo em seu corpo, o que está acontecendo em seus sentimentos e emoções, o que está acontecendo em suas percepções e assim por diante. Você já está em casa. E para cuidar de casa, você dela saiu há muito tempo. E a casa tornou-se uma bagunça. Portanto, ir para casa significa sentar-se e estar consigo mesmo, conectar-se consigo mesmo e aceitar a situação como ela é. 'Está uma bagunça sim, mas eu aceito, porque já saí de casa há muito tempo, deixei acontecer coisas assim em casa. Então, agora que estou em casa, vou reorganizar tudo. E com minha inspiração, minha expiração, minha respiração consciente, começo a sorrir para tudo e vou arrumar minha casa. Eu permito que meu corpo libere a tensão enquanto inspiro e expiro. E o Buda me disse como fazer isso, como inspirar e como liberar a tensão do meu corpo. Estou ciente do meu sentimento de solidão, de tristeza, de medo, de ansiedade. Sorrio para o sentimento de solidão, de medo, de ansiedade, digo "Minha querida solidão, sei que você está aí. Espero cuidar de você."' E você faz as pazes com a sua solidão, você faz as pazes com o seu medo. Há uma criança ferida em você. Você a reconhece e a envolve ternamente em seus braços. Esse é o ato de ir para casa e cuidar da casa.

Cada vez que você der um passo, esteja inspirando ou expirando, volte para si mesmo. Cada passo leva você para casa, para o aqui e agora, para que você possa se conectar consigo mesmo, com seu corpo, com seus sentimentos e essa é uma conexão real. E você não precisa de muita tecnologia para fazer isso. E esta é a revolução, esta é a maneira de curar a nós mesmos e à nossa sociedade.
[...]
Assim, com o ato de inspirar, você entra. A saída é entrar [em sua casa]. Quando você dá um passo, você entra em si mesmo, porque esse passo o leva para casa, para o aqui e o agora, ajudando você a se conectar com seu corpo. Seu corpo é sua respiração, seu corpo são seus pés, seu corpo são seus pulmões e você está se conectando com o corpo, com os pés, com a respiração, com os pulmões. Você está em casa, porque o corpo faz parte da sua casa.

Quando você passa duas horas no computador, esquece completamente que tem um corpo. Sem seu corpo, como você pode estar vivo? Assim, em Plum Village, muitos de nós programamos um sino de atenção plena em nosso computador e a cada 15 minutos ouvimos o sino. E paramos de trabalhar, paramos de pensar, voltamos à inspiração, gostamos de inspirar e nos conectamos com nós mesmos e sorrimos. Tornamo-nos vivos novamente. Sabemos que temos um corpo que é uma maravilha! Nosso corpo é uma maravilha e conectar-se é, antes de tudo, conectar-se com o corpo. E depois, surge um sentimento, seja ele um sentimento de tristeza, ou raiva, ou solidão. Somos nós. Nós nos conectamos com nossa inspiração e expiração e então, com essa inspiração consciente, nos conectamos com nossos sentimentos, sorrimos para nossos sentimentos. Dizemos: "Não, não se preocupe, eu estou em casa. Cuidarei de você." E você abraça seu sentimento com ternura, seja ele medo, raiva ou solidão, e se aquece com esse tipo de prática. Este é um ato de voltar para casa de verdade e você não precisa de um dispositivo tecnológico para isso.

'Seja um lar para você', disse o Buda. 'Seja uma ilha para si mesmo'. No Sana** mais profundo, tomar cuidado, refugiar-se no próprio interior, essa é a prática recomendada pelo Buda. Então, quando você caminha do estacionamento para o escritório, por que não vai para a casa a cada passo? Por que você continua pensando, se preocupando, sofrendo? Cada passo pode trazer você para casa. Você anda como um Buda, age como uma pessoa livre e isso é possível. Você se recupera, conecta-se consigo mesmo a cada passo, e a liberdade é possível. E você está se recuperando, não está mais se perdendo. Você se conecta com seu corpo, se conecta com seus sentimentos a cada passo. E cada passo lhe traz liberdade. 

E se você conseguir encontrar uma casa para si mesmo, poderá ajudar seu companheiro/sua companheira a encontrar o dele/dela, porque ela também está sozinha, ele também está sozinho, e está procurando uma casa, um pouco de calor, alguma segurança. É por isso que, uma vez que você tenha uma casa, você pode ir para o seu parceiro/sua parceira, você pode ir para a outra pessoa. E como você tem uma casa, você tem condições de ajudá-lo/la a ter uma casa também. E você está confiante, porque você sabe como se conectar consigo mesmo, como ter uma casa para si mesmo. Então, essa confiança em você vai inspirá-lo/la a fazer o mesmo. Ele/ela não consegue encontrar uma casa em você, e então se apoiará nisso para construir uma casa em si. Agora, antes que você possa ir até ele/até ela para ajudar, você tem de se ajudar, você tem de se conectar consigo mesmo. Quando você for capaz de se conectar consigo, aí então o próximo passo será possível, será bem-sucedido, o de se conectar com outra pessoa. Sem o primeiro passo [conexão consigo mesmo], o segundo passo [conexão com outra pessoa] não é possível. E você realmente não precisa de um iPhone ou algo parecido. Você precisa que seus olhos olhem para essa pessoa com compaixão. Mesmo que ela não esteja na mesma cidade, você pode se conectar com ela facilmente, porque você já é você mesmo, já está em casa, e tudo o que você disser e tudo o que você pensar irá ajudá-la a se recuperar. E então, quando essa pessoa for capaz de retornar para si mesma, seu relacionamento se tornará um relacionamento real, porque vocês dois têm um lar [dentro de si mesmos] e é por isso que, quando vocês estão juntos, vocês encontram um lar um no outro ao mesmo tempo, como em cada um de vocês, e este é um lar coletivo para vocês dois. Há uma casa aqui, há uma casa aqui e há uma casa coletiva aqui (no desenho do quadro abaixo, 1.2. e 3.). E esta é a base de tudo. Se você quer ajudar a sociedade, se você quer ajudar a comunidade, se você quer ajudar o seu país, então você tem de se basear nisso. E quando você tem um lar verdadeiro, você tem felicidade, você tem segurança, você tem realização, então você está em condições de ir para o outro [e ajudá-lo], seja ele um indivíduo ou seja uma sociedade, um grupo de pessoas (no desenho do quadro abaixo, 4., 5. e 6.).


 Então, este é o caminho prescrito pelo Buda: tudo tem de começar com você mesmo. E o ensinamento, a prática é muito clara: cada respiração, cada passo, cada sentar, cada ato, como beber, limpar, se feito com atenção plena, ajuda você a voltar para casa e a aproveitar as maravilhas da vida ao seu redor e em você. Seu corpo é uma maravilha e as colinas, os riachos de água cristalina, são todos maravilhas e têm o poder de curar.

Meu irmão Fabiong? está fazendo um resumo enquanto tenta colocar essas ideias em uma pequena página e enviar para nossos amigos para que possam praticar na época do Natal***. A prática de ir para casa [o verdadeiro lar, dentro de nós mesmos] para nos curar e ajudar a curar o mundo."

Thích Nhất Hạnh
(1926-2022)

Tradução: Flávia Barretto

Notas :) 💫

The Plum Village Monastery (vietnamita: Làng Mai; francês: Village des pruniers; português: Vila das ameixas/ameixeiras - ing./fr.) é um mosteiro budista da tradição Plum Village em Dordogne, sul da França, perto da cidade de Bordeaux. Foi fundada por dois monges vietnamitas, Thích Nhất Hạnh (um mestre Zen e monge budista) e Chân Không (uma freira budista), em 1982.

** Saṃjñā (sânscrito; Pali: sañña) é um termo budista normalmente traduzido como "percepção" ou "cognição". Pode ser definido como a apreensão de características distintivas.

*** Esta palestra foi ministrada em 13 de dezembro de 2012 e é disponível no Canal Plum Village com o título A solidão e a ilusão de conexão. Naturalmente, a prática de (re)conexão consigo mesmo/volta para a casa não se restringe apenas ao Natal, mencionado pelo monge Thích Nhất Hạnh em virtude da proximidade da data quando ministrada a palestra, mas deve ser realizada a cada dia do ano, como ele cuidadosamente nos ensina.

Resumo na imagem, em azul:

1. Primeiro passo > Conexão consigo mesmo: voltando para a casa.

2. Segundo passo >  Conexão com uma pessoa amada: ajudando-a em seu processo de retorno ao próprio lar.

3. Terceiro passo > A formação de um lar coletivo para os dois.

4. Representação de um indivíduo lá fora que precise de ajuda.

5. Representação de uma sociedade ou um grupo de pessoas que precise de ajuda.

6. Quarto passo > "E quando você tem um lar verdadeiro, você tem felicidade, você tem segurança, você tem realização, então você está em condições de ir para o outro [e ajudá-lo], seja ele um indivíduo ou seja uma sociedade, um grupo de pessoas.
Então, este é o caminho prescrito pelo Buda: tudo tem de começar com você mesmo.


Músicas do dia

 Música de meditação budista para energia positiva: "Eu interior": ✨

Vídeo postado por: Nu Meditation Music
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***


Nota da Fada :) 💫


Queridos amigos,

Aqui despeço-me de vocês com um abraço afetuoso e meu desejo de que cada um reencontre a (ou permaneça em) conexão com seu "Eu interior", sua casa, para sua própria paz e felicidade e para que conexões profundas entre vocês e aqueles que amam também sejam posteriormente estabelecidas e iluminem o mundo à volta!

Muita paz! 🙏

Com amor,

A Fada do Vento
🧚

"Entonces te encuentras. Sabes que allí perteneces. Que ella la vieja sabía es parte de ti. El bosque susurra a tu oído Necesitas sus consejos, su abrazo..."
Em Pinterest. Maris Carmona
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Comentários

  1. Namastê 🙏🌟🙏
    Obrigado Fadinha🧚 Flavinha!!!💞💞💞💞💞
    É sempre um bálsamo ler-te e ouvir-te!!!!😁
    Muito Grato🤲💙🫂

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    Respostas
    1. Suas palavras alegram-me a alma, Ruyzinho! 🧚‍♀️✨️
      Eu que agradeço o seu carinho e sua presença aqui no site. 🙏🏻
      Um grande abraço da fada. 💫

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  2. Amei a postagem de hoje... Por tudo isso acredito realmente, cada vez mais na ajuda da meditação...
    Obrigada por tudo isso!!
    Muita Paz!!!
    Namastê 🙏🙏❤️❤️

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    Respostas
    1. Obrigada, querida Mariza. Feliz que tenha gostado.
      Recentemente, ouvi uma pessoa criticando a prática da meditação. Ela disse: "Não acredito em nada disso. É tudo moda, coisa de Instagram." Fiquei pensando... eu acredito na passagem de Jesus neste planeta e nas mensagens de amor e paz (numa época em que muitos esperavam o oposto disto) que ele deixou para quem quisesse escutá-lo. Um ser iluminado que passou pela Terra (assim como Buda, Sócrates e tantos outros ao longo da história), que é uma inspiração - por suas palavras e atitudes bondosas - para tantas pessoas até hoje - ditas, assim, cristãs. Sua passagem na Terra foi tão importante, que o próprio tempo é contado como "antes de Cristo" e "depois de Cristo" em grande parte do mundo. Os seres humanos, regra geral, têm, em sua percepção do tempo, a ideia de que o nascimento de Jesus é um evento muito antigo, ocorrido dois mil e vinte e quatro anos atrás (não é tanto tempo assim :). E, no entanto, levando isso em conta, a prática da meditação é milenarmente mais antiga do que a passagem de Jesus neste planeta. Então, quando escuto alguém dizer que isso é "coisa de Instagram", perco a energia em minhas asas 🧚‍♀️, deito nos braços de minha árvore ao vento 🌳🍃 e confio no tempo, que tudo esclarece. Há pessoas que, simplesmente, precisam de mais tempo. Tudo que podemos fazer é respeitar e esperar que outras pessoas não se contaminem por essas afirmações vazias, que, naturalmente, nada ajudam a humanidade.
      Eu quis compartilhar, porque talvez você ou outras pessoas que aqui vêm já tenham escutado afirmações semelhantes e, como eu, foram pegas de surpresa... Respiremos e sigamos em frente, fazendo a nossa parte com amor.
      Mais uma vez, gratidão por suas mensagens e sua presença aqui. Um grande abraço.
      Namastê. 🙏🏻

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